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23.7.15

Postos de trabalho diminuem e Alto Araguaia acumula desemprego há três anos consecutivos

De janeiro de 2012 até maio de 2015, os postos de trabalho no município diminuíram 3,62%, na contramão do Estado e do país.
(Foto: Teatro de Tabuas).
Se no ano passado a economia brasileira cresceu pouco e as ofertas de trabalho no país diminuíram, em Alto Araguaia o sinal de alerta deveria estar ligado há muito mais tempo, pois o desemprego na cidade aumenta vertiginosamente desde 2012. O município fechou os últimos três anos no vermelho e ao final de todos eles o balanço mostra que a quantidade de demissões foi maior que o número de contratações.

Em Alto Araguaia, as estatísticas revelam que de janeiro de 2012 até maio de 2015 foram efetuadas 4.161 admissões contra 4.473 dispensas, o que representa uma redução de 3,62% na quantia de postos de trabalho ao longo desse período. Ao contrário, tanto o Mato Grosso (com aumento de 1,15%) como o Brasil (crescimento de 1,06%), apresentaram saldo positivo na geração de empregos quando considerada a mesma época. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

O percentual de 3,62% (equivalente a 312 postos de emprego a menos) pode até parecer pequeno em um município com um pouco mais de 17 mil habitantes. Mas em uma comparação hipotética, se o estado tivesse reduzido 3,62% das suas vagas de trabalho nesse período, 55.138 empregos deixariam de existir. No Brasil, o mesmo percentual corresponderia a mais de 2,5 milhões de desempregados.

ESCASSEZ DE VAGAS

O resultado negativo na geração de empregos pode ser facilmente percebido na agência municipal do Sine no município, entidade responsável pela intermediação de mão de obra com as empresas. Diariamente, 20 pessoas em média procuram o órgão em busca de uma oportunidade e outras 20 telefonam com o mesmo objetivo. Porém, o Sine tem anunciado apenas de duas a seis vagas semanalmente, número bem inferior à quantidade de candidatos. Em raríssimas vezes a quantia de oportunidades é maior.

Já houve semanas também, principalmente em março, abril e maio, nas quais a instituição sequer divulgou uma única vaga de trabalho nova. O quadro de ofertas de trabalhou chegou a permanecer inalterado durante 10 dias, sem nenhuma novidade.

A pergunta que os atendentes do Sine mais ouvem durante o dia é: “tem vaga de emprego?”. Com muito pouco para falar, os funcionários se limitam a pedir que os interessados olhem o painel das escassas vagas. No final, a maioria dos desempregados sai da agência com um profundo desânimo, perceptível na expressão facial, e o drama continua ao perceberem tamanha a dificuldade para encontrar uma chance de trabalho na cidade.

REDUÇÃO DAS OPERAÇÕES DO TERMINAL FERROVIÁRIO

Para o ex-presidente da Associação Comercial e Industrial de Alto Araguaia e Santa Rita do Araguaia (Aciais), Itamar Corrêa de Oliveira, 41 anos, a crise de empregos está atrelada a redução das operações do Terminal Ferroviário de Alto Araguaia, gerido atualmente pela Rumo ALL. “A gente lembra que ainda em 2012, o Terminal não havia saído daqui. Já em 2013 o Terminal diminuiu o movimento. Com isso, perdemos vários empregos”, pontua.

Em setembro de 2013, a então ALL – antes da fusão com a Rumo, que aconteceu agora em 2015 - inaugurou o Complexo Intermodal Rondonópolis. Por conta disso, mais da metade das operações de carga e descarga de fertilizantes, grãos de soja, milho e farelo de soja, que antes eram realizadas no Terminal Ferroviário de Alto Araguaia, passaram a ser feitas em Rondonópolis.

Contudo, para a professora licenciada em computação, Juliana Silva, de 27 anos, mesmo com as mudanças no Terminal, a Prefeitura Municipal é a principal responsável pela perda de investimentos empresariais e pela queda na criação de empregos. “A administração municipal deixou a desejar quanto a investimentos e apoios para que empresas permanecessem em nossa cidade e para que outras chegassem. É sabido de todos que Alto Araguaia compôs o grupo de um dos maiores polos industriais de MT. E agora o fluxo todo foi transferido para Rondonópolis. Temos galpões gigantescos desativados no Terminal. Mas a má governabilidade reflete em tudo”, opina.

Juliana está desemprega há seis meses e mora com os pais. Sem expectativa de encontrar um trabalho em Alto Araguaia, se disse obrigada a mudar os objetivos profissionais. “Estou estudando pra concurso, então parei de procurar por emprego”, conta.

TRÊS ANOS E MEIO NO VERMELHO

Em 2012, enquanto o emprego crescia no estado (aumento de 2,64%) e no Brasil (2,17%), Alto Araguaia já dava pistas do retrocesso. Nesse ano, o número de postos de trabalho no município caiu 6%. Foram 1.299 demissões e 1.152 trabalhadores contratados.

No ano seguinte, a queda foi de 3,17% (1.245 desligamentos e 1.172 contratações), ao passo que o emprego cresceu novamente em Mato Grosso (1,49%) e no país (1,77%).

Já em 2014 o estado também diminuiu as contratações em 0,48% e Alto Araguaia apresentou pelo terceiro ano consecutivo resultado negativo de 2% na geração de empregos (1.370 admissões contra 1.426 demissões). O Brasil, no entanto, mesmo com a crise econômica, ainda segurou um saldo positivo de 0,37%.

De janeiro a maio desse ano, Alto Araguaia segue com dificuldades, pois gerou 467 empregos, enquanto foram demitidos 503 trabalhadores, o que equivale a um novo balanço negativo de 3,95%. Mato Grosso, no entanto, se recupera e nesses cinco primeiros meses acumula crescimento de 1,09% na criação de novos postos de trabalho. Já em todo o Brasil houve um recuo de 1,71%.


POPULAÇÃO RECLAMA

O morador do Centro de Alto Araguaia, Eujones Márcio Silva de Almeida, 35 anos, está desempregado há quatro meses. Ele veio de Rosário Oeste-MT há quase um ano para residir com a esposa araguaiense. Seu último trabalho foi de recepcionista de hotel, mas agora vive o drama do desemprego junto com a mulher. “A população de Alto Araguaia está procurando empregos em outras cidades. Acho que o prefeito precisa investir. Eu só estou aqui porque minha esposa é do município, mas já procuro meios de ir para cidades mais próximas. Até estou enviando currículos para outros lugares também”, afirma.

A estudante Andressa Oliveira, 18 anos, que também está desempregada, aponta outro problema enfrentado principalmente pelas pessoas que vem de outras cidades e que procuram emprego. Trata-se de um dilema de ordem cultural. Segundo ela, muitas portas de trabalho se abrem por indicação, o tradicional QI (quem indica). “Não tem vagas de emprego e quando tem são mais direcionadas aos mais conhecidos e indicados por outra pessoa. Meu último emprego, eu consegui por ter sido indicada”, explica.

Fonte: Trabalho em Pauta
Texto: Ademilson Lopes
Data: 23/07/2015
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