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16.4.15

Jovem araguaiense imita 50 personagens e conta detalhes da profissão de humorista

Ademilson Lopes

Dezenove anos e com o talento para imitar 50 personagens. Aliás, ao contrário do que muitos poderiam pensar, não é preciso ir longe para conhecer a pessoa capaz disso. Ele é fruto da terra, ou prata da casa, como queiram, e está pertinho de nós. Falamos do humorista e araguaiense Ewander Vasconcelos Rezende, dono de variadas vozes e trejeitos. 
Ewander posa pra foto com nariz de palhaço. (Foto: arquivo pessoal)

Filho de pais pobres e nascido na cidade de Várzea Grande-MT (a 420 km de Alto Araguaia), ainda aos sete anos o menino já narrava em tom de Cléber Machado (locutor esportivo da Rede Globo) as partidas de futebol que participava, ainda que estivesse em campo jogando. Era uma mistura de chute na bola e “Globo, a gente se liga em você”...

Hoje, após se mudar para Alto Araguaia, o humorista faz parte da equipe do programa “Nocaute”, que vai ao ar nos sábados, a partir das 14h, na rádio Aurora (99,7 FM).

Confira a entrevista com Ewander a seguir, e conheça-o um pouco mais. E olha, aproveite, pois quem sabe daqui a alguns anos ele estará na televisão e não teremos mais essa fácil oportunidade de conversar com o rapaz (risos).
 
O humor faz parte da rotina de Ewander.
 (Foto: arquivo pessoal).
Repórter - Ewander, hoje você trabalha como imitador e humorista no programa “Nocaute”. Mas antes eu quero saber: como começou esse desejo pelo humor?

Ewander – Eu gostava muito de jogar bola e queria ser o narrador. Primeiro, começou com o Cléber Machado (locutor esportivo da Rede Globo), quando eu tinha uns sete anos. Eu jogava e narrava ao mesmo tempo. Disso eu fui trazendo mais e mais personagens para as minhas imitações. Quando eu não estava jogando, fazia (a imitação-narração) na torcida. Com isso, eu fui aperfeiçoado a voz dele e depois comecei a imitar o Silvio Luiz (outro narrador esportivo, conhecido pelos bordões, como “Pelas barbas do profeta!”, e por não gritar a palavra “gol”), que também gostava de fazer, e uma imitação foi chamando a outra.

Repórter – Grandes humoristas, como o atual deputado federal Tiririca (PR-SP), o ícone Ronald Golias, o memorável Costinha, o próprio Zacarias dos Trapalhões (que você imita), além dos mais novos, como Danilo Gentili, viveram uma infância pobre. Me parece que você também vem de uma família humilde. E os seus tempos de criança, como foram?

Ewander – Ah! Foi um pouco complicado. Lá em casa, a gente não tinha muitos brinquedos. Minha mãe não tinha tanta condição de comprar muitas roupas pra mim e meu pai ganhava pouco. Às vezes, eu dependia das roupas e brinquedos ganhados dos meus padrinhos.

Repórter – Eu sei que o Ewander imita o apresentador Sílvio Santos, o narrador esportivo Silvio Luiz, o ex-presidente Lula, o Zacarias – que eu já mencionei –, o jornalista Marcelo Rezende. Tem alguma imitação que me esqueci de citar?

Ewander – No total eu tenho 50 imitações, cada uma melhor do que a outra. Eu as faço durante o “Nocaute” e a cada semana (cada programa) faço duas, três, quatro. Mas pra chegar a tantas, é difícil.

Repórter – Você diz que imita 50 personagens, mas além dos que eu citei, quais você considera mais importantes?

Ewander – No programa “Nocaute” eu faço muito o Zeca Camargo (apresentador da Rede Globo). Também faço o “Poderoso Castiga”, o “Melhor do Melhor do Mundo” (personagens do comediante Eduardo Sterblitch, do “Pânico na Band”), Marília Gabriela, o Datena...

Repórter – Uma das técnicas utilizadas pelos humoristas é assistir aos programas televisivos de uma personalidade e prestar atenção nos detalhes de voz, postura e movimentos, para depois imitá-la. O seu começo nessa arte foi assim? Clique e ouça a resposta abaixo!.


Repórter – Em todas as profissões, é natural que o trabalhador goste mais de algumas atividades relacionadas à sua função do que de outras. Questão comum de preferência! No seu trabalho como humorista, existe alguma personalidade que você mais gosta de imitar?

Ewander – Depende. Tem hora que eu acho o Silvio Santos o mais inspirador, depois o Silvio Luiz. Mas para cada personagem eu tenho um carinho.

Repórter – Cada celebridade que o Ewander imita possui características e trejeitos diferentes. O Lula possui uma voz “rouca” e língua “presa”, o Zacarias, uma fala parecida com a conversa de uma criança, o Marcelo Rezende, uma maneira pausada e dramática de pronunciar as palavras. Enfim, das pessoas que você imita, qual requer mais técnica?

Ewander – “O Poderoso Castiga”, pelo jeitinho. A voz começa bem fina e depois começa a engrossar. Não tem um tom de voz certo. Fica mais difícil pegar todos esses tons e eu tenho vergonha de fazer uma voz quando ela não está boa.
Ewander no estúdio da rádio Aurora FM. (Foto: Arquivo pessoal).
Repórter – Alto Araguaia, por ser um município pequeno (em torno de 16 mil habitantes, segundo o Censo do IBGE de 2010), conta apenas com duas empresas de rádio (Aurora FM e Cidade 740 AM). A sua ida para a Aurora aconteceu de que forma?

Ewander – Tudo começou da minha vontade de participar do “Nocaute”. O André (locutor da rádio Aurora) estava fazendo o programa (“Nocaute”) e o meu primo estava junto com ele. Aí o meu primo me ligou e disse para eu telefonar no programa e fazer uma imitação. Eu liguei e fiz a imitação do “Marcelo sem Dente” e do “Poderoso Castiga” (personagens de Eduardo Sterblitch). O André gostou muito e me chamou pra ir à rádio na outra semana (na outra edição do “Nocaute”).

Eu tinha muita vergonha e não queria ir, mas o meu tio (Ironildo Lopes, repórter da TV Integração de Alto Araguaia) me incentivou. Quando eu cheguei (no programa) nos apresentamos, mas eu estava bem nervoso. Comecei com uma imitação, passei para outra e fui me soltando. Na segunda semana eu já estava metendo apelido em todo mundo e daí em diante começou a festa (risadas).

Repórter – A Rádio Aurora foi o primeiro veículo de comunicação que te abriu as portas? Clique e ouça a resposta abaixo!.




Repórter – Mas antes de chegar à Rádio Aurora, a sua vontade era trabalhar como locutor?

Ewander – Eu queria trabalhar em uma rádio, mas não propriamente como locutor, coisa que aconteceu recentemente quando me colocaram pra apresentar um programa. A minha especialidade é fazer os outros rirem, é de imitar e eu gosto muito da minha posição de humorista.

Repórter – Mesmo sendo pequena, Alto Araguaia possui uma emissora de televisão local, gerando parte da programação aqui mesmo no município. Você já tentou uma oportunidade nessa empresa?

Ewander – Desde quando estreei lá na Aurora, passou um tempinho eu pensei em conversar com o pessoal da televisão. Falei com o João Maia há um ano (diretor da emissora), foi passando o tempo, fui passando lá em frente... Há uns cinco meses o José Nildo (apresentador da TV) falou pra eu ir lá que ele ia arrumar um jeito pra me colocar no programa dele, mas até agora não deu em nada.

Enquanto isso eu vou trabalhar no “Nocaute”, vou animando mais e mais, e uma hora eu terei a sorte.

Repórter – Humoristas já consagrados como Tom Cavalcante, Shaolim, Golias, Chico Anysio, Pedro Manso e Jô Soares tiveram importantes passagens pelo rádio. Isso, de alguma forma, te deixa mais otimista em relação aos seus projetos profissionais, pelo fato de já ter conquistado o seu espaço em uma rádio?

Ewander – Claro. Eu os vejo como uma inspiração. Tem também o Renato Aragão (Didi) que eu gosto bastante. Muitos humoristas e não só eles, mas como outros apresentadores de televisão, começaram no rádio e eu venho com esse sonho. Com o mesmo jeitinho, com humildade, de degrau em degrau, eu vou chegar longe.

Repórter – Jô Soares (apresentador de televisão e humorista), nos seus tempos de infância, sonhava em ser diplomata. Renato Aragão – que você citou – formou-se em Direito e foi comandante do Exército Brasileiro. Golias trabalhou como alfaiate e funileiro. Hoje, o Ewander exerce outra profissão além de humorista, para complementar a renda?

Ewander – Eu estou vivendo basicamente meio dividido, porque procuro cursos para me profissionalizar, tanto na área do rádio, quanto para futuros trabalhos. Se não estudar, você não tem o respeito das outras pessoas. Então, eu vou conseguir o meu respeito estudando.

E também, estou esperando meu empresário marcar shows para a gente fazer.

Repórter – Os canais “Porta dos Fundos” e “Parafernalha” alcançam diariamente milhões de internautas e se tornaram tão famosos no Youtube que até o canal “Fox”, assistido na TV paga, já exibe os episódios do primeiro aqui no Brasil. A ideia, no entanto, começou mesmo na Internet. Fábio Porchat, atualmente na “Grande Família” (humorístico da TV Globo) foi revelado justamente na Rede. Agora, com o seu canal no Youtube, o “Geração Maluca” (https://www.youtube.com/channel/UCYqM_iNbFpY-XjC1_iC1yDg), o que planeja alcançar?

Ewander – Dei uma parada agora nos meus vídeos pra analisar melhor o que eu posso fazer e pra melhorar também as condições de vídeo, a parte de edição, pra cada dia ficar mais profissional. E também tenho que criar um novo tipo de ideia, não ficar só na base da repetição, porque o “Porta dos Fundos” trouxe a novidade pra Internet. O que era difícil para os outros fazerem, eles fizeram. Tem muitos canais do Youtube que eu admiro bastante.

Repórter – Nas suas imitações, você faz papéis criados pelo humorista Eduardo Sterblitch. Em um dos seus vídeos, você trouxe para a sua apresentação vários personagens dele. Qual a razão dessa admiração?

Ewander Comecei a assistir ele desde o começo da sua trajetória, do tempo que ele era tímido do mesmo jeito que eu fui. Ele conseguiu conquistar pouco a pouco o público, a admiração de todos. É isso que me dá uma energia até diferente. Eu falei: eu vou ter que fazer os personagens desse cara, porque é diferente pra mim, não desmerecendo outros personagens.

Repórter – O Eduardo começou sua carreira como ator. Fez o personagem “O Melhor do Melhor do Mundo” no teatro, cuja peça foi gravada e alcançou muito sucesso também no Youtube. Só depois conseguiu chegar na TV. Você se considera capaz de um dia trabalhar em programas como “CQC” e “Pânico na Band”?

Ewander – No momento eu acho que não, porque basicamente as pessoas que estão lá estudaram muitos e muitos anos pra aquilo. Não chegam ali à toa, não caíram de para-quedas pra fazer aqueles personagens. Eu tenho que trabalhar, pensar e lançar muitos projetos pra daqui a dois anos imaginar coisas mais grandes. Meu foco agora é mais a Rádio Aurora, em fazer sucesso ali e conquistar o público daqui, pra depois pensar em coisas maiores, onde a concorrência é muito grande.


Ewander, vestido da personagem Paty,
divulga o seu canal no Youtube.
(Foto: Arquivo pessoal).
Repórter – Piadas com apelo sexual, humor que explora a nudez, que faz uso da sensualidade, brincadeiras que ironizam grupos sociais específicos como o gaúcho, os homossexuais, as mulheres, às vezes com linguagem que envolve palavrões, xingamentos, formam o chamado humor apelativo. Na sua opinião, pra fazer rir, é preciso usar esses recursos?

Ewander – Na minha opinião, se não exagerar, nada de mal! De certa forma até concordo, porque têm alguns humoristas que extrapolam e as coisas ficam muito estranhas. O grande exemplo que eu cito é o Chaves, porque ele faz a gente rir sem precisar apelar com nada. Também Renato Aragão, Zacarias e Mussum não precisavam humilhar tanto as outras pessoas pra fazer humor. É humor simples!

Repórter – Num episódio do programa “CQC”, em setembro de 2011, o comediante Rafinha Bastos fez um comentário ao vivo, dizendo que “comeria ela e o bebê”, se referindo à cantora Wanessa Camargo (na época grávida). Na Justiça, Rafinha teve que pagar uma indenização de R$ 100 mil para ela. Ainda perdeu o emprego na Rede Bandeirantes, onde também fazia parte do elenco de “A Liga”. Aqui na cidade você tem medo de brincar com algum tema ou pessoa e sair prejudicado? Clique no player e ouça a resposta!





Confira o áudio a seguir e ouça uma sequência de imitações de Ewander. 

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