Publicado por
Unknown
Por Luís Guilherme Barrucho – Da BBC Brasil
Entre os profissionais mais difíceis de contratar, operários e técnicos aparecem no topo da lista. |
A falta de preparo do trabalhador brasileiro e o estigma associado aos
cursos profissionalizantes - que faz com que muitos jovens ainda prefiram optar
pela universidade do que pela escola técnica - criou sérios problemas para as
empresas brasileiras na busca por mão de obra.
Uma pesquisa da empresa de recrutamento ManpowerGroup, divulgada no mês
passado, mostrou que a taxa de escassez de talentos (mão de obra qualificada)
no Brasil é de 63%, quase o dobro da média mundial (36%). Foram ouvidos na
sondagem mais de 37 mil empregadores de 42 países e territórios.
Outro levantamento, da Fundação Dom Cabral (FDC), em São Paulo,
publicado em abril deste ano, diz que nove entre cada dez empresas brasileiras
apresentam dificuldades em preencher seus quadros.
As companhias citam a escassez de profissionais capacitados (83,23%) e a
deficiência na formação básica (58,08%) como os principais entraves para
assinar carteiras. O estudo foi realizado com base em dados fornecidos por 167
empresas de diferentes setores que, juntas, respondem por 23% do PIB.
Sem saída, as empresas acabam abrindo mão de exigências como
experiência, pós-graduação e fluência no inglês para contratar. Além disso,
oferecem pacotes de benefícios para reter os profissionais já contratados.
Com funcionários menos produtivos, a competitividade dos produtos
brasileiros acaba prejudicada. Hoje, um brasileiro leva um dia para produzir o
equivalente a um americano em cinco horas, um alemão, em seis horas, e um
chinês em oito horas.
"Nossa produtividade vem crescendo a um ritmo menor do que o custo
do trabalhador. A empresa precisa pagar essa diferença, ou corrigindo os preços
e gerando inflação, ou reduzindo investimentos. Nos dois casos, o crescimento
da nossa economia é afetado", afirmou à BBC Brasil José Pastore, professor
de economia da USP e ex-chefe da Assessoria Técnica do Ministério do Trabalho.
A dificuldade de encontrar mão de obra qualificada também tem levado as
empresas a intensificar a capacitação do trabalhador no próprio ambiente de
trabalho. Segundo uma sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
divulgada no ano passado, 81% das empresas utilizam essa estratégia. Entre as
de grande porte, essa taxa sobe para 87%.
Carência
Entre os profissionais mais difíceis de contratar, operários e técnicos
aparecem no topo da lista.
Marcia Almstrom, diretora de Recursos Humanos da ManpowerGroup no
Brasil, disse à BBC Brasil que o "desprestígio" do ensino técnico
criou "uma lacuna no mercado de trabalho".
Para tentar solucionar esse problema, o governo federal espera elevar o
número de matrículas Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
(Pronatec) das atuais 8 milhões para 12 milhões nos próximos quatro anos.
"O Pronatec foi um passo decisivo para que nós pudéssemos, de fato,
garantir escala, gratuidade e qualidade na educação profissional", disse à
BBC Brasil o ministro da Educação, Henrique Paim.
"O resultado é muito importante para o país do ponto de vista da
competitividade e fará o Brasil se tornar mais competitivo", acrescentou.
O levantamento da FDC dá ideia do impacto da escassez de profissionais
qualificados no mercado de trabalho. Em uma análise por área, a produção/chão
de fábrica continua sendo a mais difícil de encontrar trabalhadores capacitados
(47,3% das empresas consultadas). A pesquisa também revela que as funções
técnica e operacional são as posições de qualificação mais precária (50,62%).
Por causa disso, de acordo com o estudo, no nível técnico, quase 60% das
companhias reduziram as exigências para contratação. No nível superior, a taxa
é de 45,1%. Em 2010, quando a Dom Cabral fez a primeira pesquisa sobre carência
de mão de obra, as taxas eram de 54% e 28%, respectivamente.
A partir de pesquisas e da opinião de especialistas, a BBC Brasil
identificou dez áreas em que há escassez de profissionais capacitados. Confira.
Operários
Quanto ganham? até R$ 1,5 mil
Por que estão em falta? A redução da pobreza e o ganho de renda
permitiram ao trabalhador de produção/chão de fábrica estudar e buscar
profissões de melhor remuneração. Cada vez menos pessoas, portanto, querem
dedicar-se ao trabalho braçal. Também faltam profissionais capacitados.
Técnicos
Quanto ganham? entre R$ 2 mil e R$ 5 mil
Por que estão em falta? A escassez desse tipo de profissional se
concentra nas áreas de edificação, eletricidade e automação. O crescimento na
oferta de cursos de ensino superior privados contribuiu para aumentar a sangria
no ensino profissionalizante, uma vez que cada vez mais jovens preferem um
diploma universitário ao certificado de um curso técnico. Entre 2003 e 2012, o
número de matrículas só no ensino superior praticamente dobrou, passando de 3,8
milhões para cerca de 7 milhões, a maioria na rede privada.
Motoristas
Quanto ganham? até R$ 2 mil
Por que estão em falta? Tal como os operários, muitos decidiram deixar a
profissão em busca de carreiras mais bem remuneradas, aproveitando-se para isso
do crescimento econômico dos últimos anos, que criou uma classe média até então
inexistente. Também faltam condutores capacitados, aptos a usar novas
tecnologias e a dirigir veículos especializados.
Secretárias e assistentes
Quanto ganham? de R$ 1,5 mil a R$ 2,5 mil
Por que estão em falta? Em muitos casos, a profissão exige apenas nível
médio, o que não interessa a jovens que aspiram a um diploma universitário. Os
que já estavam na carreira também optaram por deixá-la, à medida que passaram a
ingressar em cursos de nível superior afins às áreas em que trabalhavam. Também
faltam profissionais capacitados dado que a carreira requer conhecimentos antes
inexistentes, como fluência em língua estrangeira.
Profissionais de Recursos Humanos
Quanto ganham? de R$ 6 mil a R$ 10 mil
Por que estão em falta? A necessidade de reestruturação das empresas,
especialmente em um momento de esfriamento da atividade econômica no país,
aumenta a exigência sobre os Recursos Humanos, setor responsável por reformular
a base de talentos das empresas. Há uma demanda maior, portanto, por
profissionais da área.
Profissionais de TI
Quanto ganham? entre R$ 2,5 mil e R$ 5 mil
Por que estão em falta? O número de profissionais formados na área de
tecnologia da informação não atende à demanda crescente das empresas, cada vez
mais informatizadas. Entre os principais motivos, segundo especialistas, estão
o baixo interesse dos estudantes brasileiros por ciências exatas até a alta
evasão dos cursos ligados à tecnologia. O setor estima que o déficit de
profissionais chegue a 750 mil em 2020.
Contadores e Profissionais de Finanças
Quanto ganham? entre R$ 5 mil a R$ 10 mil
Por que estão em falta? A complexidade da economia brasileira impôs
novas exigências aos profissionais da área, aos quais falta especialização.
Além disso, os jovens teriam perdido interesse no setor por seu caráter
'operacional' e não 'estratégico', dizem especialistas.
Profissionais de meio ambiente
Quanto ganham? entre R$ 7 mil e R$ 15 mil
Por que estão em falta? O aumento da demanda por profissionais de meio
ambiente cresceu à medida que as empresas passaram a mensurar os custos financeiros
e políticos do impacto de suas ações na natureza. Porém ainda há um grande
déficit de profissionais especializados na área, em parte devido à baixa oferta
de cursos.
Engenheiros
Quanto ganham? entre R$ 8 mil e R$ 20 mil
Por que estão em falta? O Brasil tem uma carência histórica na área de
engenharia, formando, anualmente, apenas 44 mil engenheiros, contra 150 mil dos
Estados Unidos, 300 mil da Índia e 400 mil da China. Há uma demanda maior por
engenheiros de produção, de segurança do trabalho, mecânicos, civis, de
controle e automação, elétrico e ambiental.
Profissionais de Saúde
Quanto ganham? entre R$ 5 mil e R$ 20 mil
Por que estão em falta? As novas tecnologias passaram a exigir mudanças
e adaptações no comportamento dos funcionários. O médico do trabalho ganhou
papel importante nesse processo. A especialização, no entanto, ainda é limitada
em número de cursos e Estados.
Nenhum comentário
Postar um comentário
Seja bem vindo ao blog do Acessuas Trabalho.