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Unknown
Blog do Acessuas Trabalho
02/05/2015
A luta agora invade o campo dos sentimentos e das emoções (Foto: Divulgação/SF Notícias). |
Todos já sabem que no dia
1º de maio comemora-se o Dia do Trabalhador, uma data para relembrar as conquistas da classe e reivindicar mais direitos. Porém, poucos imaginam qual é a mais
nova inimiga dos empregados no Brasil. Você arrisca um palpite? Não estamos falando da jornada de
trabalho exaustiva, da “Lei das Terceirizações”, da supressão de direitos
trabalhistas, do trabalho escravo. Nada disso! A vilã é silenciosa e age às
escuras. Ela se chama depressão, uma doença que atinge a autoestima, os sentimentos e as emoções,
prejudicando inclusive a produtividade de quem é afetado.
De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão ocupa o segundo lugar dentre as
doenças que causam incapacidade no trabalho, e a projeção é que até 2020 ela
esteja no topo da lista. Ainda segundo a OMS, a média de faltas no trabalho de
um indivíduo com depressão é de sete dias por mês, enquanto a média geral é uma
vez a cada 30 dias. Em linha com essa afirmação, uma pesquisa realizada pela
Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o Instituto Nacional de Seguro
Social (INSS) revela que 48,8% dos trabalhadores que se afastam por mais de 15
dias do trabalho sofrem com algum transtorno mental, sendo a depressão o
principal deles.
A doença se manifesta aos
poucos e tende a progredir, caso não seja tratada. Entre os principais
sintomas, destacam-se situações que podem ser vividas tanto no ambiente de
trabalho como fora dele. Inclui a dificuldade de concentração, angústia,
inquietação, desânimo, sensação de impotência, desinteresse pelo trabalho,
desencanto da vida, irritabilidade ou impaciência, inquietação e ansiedade,
dificuldade para terminar as tarefas do emprego, pensamentos negativos, queixas
frequentes, mágoa e até planos de morte ou suicídio.
Muitos são os fatores que
podem desencadear o problema: a perda de um ente querido, o fim de uma relação
amorosa, problemas financeiros e dificuldades profissionais. Por conta das
longas jornadas de trabalho, pressões por resultados, competitividade e
estresse, os ambientes corporativos estão cada vez mais relacionados às causas
do desenvolvimento da doença. “No caso de pessoas com pré-disposição para o
problema, o estresse ocupacional pode ser a gota d’água”, diz Ricardo Esch,
psiquiatra e diretor técnico da Mind Performance, empresa de gerenciamento de
riscos comportamentais que atua na implementação de programas de Equilíbrio
& Apoio Pessoal (EAP) e atende cerca de 100 empresas no país.
A DEPRESSÃO E O FATOR DIFICULDADE DE RELACIONAMENTO
Entre as causas provocadoras
da doença que foram citadas até agora, nenhuma delas é novidade. Praticamente
qualquer sujeito já ouviu falar que a perda de uma pessoa querida ou o estresse podem desencadear quadros depressivos. Entretanto, nem todos param para pensar que a
depressão também pode vir associada à dificuldade que as pessoas têm para se
relacionarem umas com as outras na atualidade, principalmente diante do avanço
das novas tecnologias. É o computador e o celular substituindo a conversa face
a face.
O ser humano, dotado de
múltiplas capacidades de expressão (fala, gestos, escrita, música, artes, etc) perde
continuamente a facilidade se comunicar adequadamente com os seus pares,
conforme o profissional coach, Augusto Almeida. “Hoje, a grande dificuldade é a
interação social diante da tecnologia, principalmente do famoso Whatsapp, onde
as pessoas acabam não falando entre si, mas vivem um mundo virtual”, explica o
especialista, que é instrutor do Senar e ministrou o curso de relações interpessoais em Alto Araguaia, semana passada, para 15 pessoas.
De acordo com uma
pesquisa da Glass.qz, datada do final do ano passado, os brasileiros gastam 460
minutos por dia com smartphones, tablets, TV ou PC. Desse tempo, pouco mais de
2 horas e meia são gastas somente com smartphones (onde se instala o popular “Zap
Zap”). Ficando 113 minutos para TV, 146 minutos para PC e 66 minutos para
tablets. Inclusive, se tornou comum as pessoas caminharem, esperarem em filas e
até trabalharem sem desgrudar do celular.
Conectados às redes
virtuais, mas “desconectados” das situações reais de relação e interação social,
os sujeitos se tornam cada vez mais solitários, em seu próprio mundo virtual. E o problema é que solidão além de rimar com depressão, também transforma quem vive sozinho em alguém retraído e posteriormente deprimido.
Isso ocorre porque, segundo já dizia o
revolucionário Karl Marx (o pai do socialismo), o homem é por natureza um
animal social e não pode ser privado de estar em sociedade, ou em palavras mais
simples: o homem não nasceu para viver sozinho. Retomando um contexto bíblico,
o livro de Gênesis registra que Deus, após ter criado Adão, viu que não era bom
que o homem vivesse só e por isso criou também a Eva.
Mas o simples fato de se
relacionar com outras pessoas não é o suficiente para afastá-lo dos riscos da
depressão. É necessário conviver satisfatoriamente com os demais, ou seja,
saber viver em conjunto, algo cada vez mais raro nos dias atuais de conflito
das mais diferentes ordens (vale lembrar os conflitos amorosos, no interior das
famílias e a própria concorrência no trabalho... é uma guerra de interesses). Um
exemplo que prova que os indivíduos estão recuando no quesito relacionamento é
que hoje quase 140 mil casamentos são cancelados por ano no país, segundo dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2006, o número
não chegava a 80 mil. A quantidade de divórcios quase dobrou em menos de dez
anos.
De acordo com Almeida, a
melhor forma de melhorar esse convívio social é cada um conhecer a si mesmo, pois
segundo ele a maioria das pessoas apenas acha que se compreende. “Primeira
pergunta que eu faço no curso: o quanto você se conhece, atribuindo uma nota de
0 a 10? Inicialmente os alunos se dão nota 8, 9 e 10. Mas ao longo da
capacitação essas notas caem muito, após dois testes que eu aplico, demonstrando
que de fato eles não se compreendem como pensam”, diz.
Se a pessoa não consegue
entender ela mesma, situações mal resolvidas, decepções do passado, frustrações
e o estresse de uma rotina de trabalho funcionam como uma bomba relógio a ponto
de explodir (basta os fatores se combinarem) e pré-dispõe o trabalhador a
desenvolver um quadro de depressão. Pergunta-se: como alguém que não entende quem
realmente ele é pode lidar adequadamente com os mais diversos problemas da
contemporaneidade?
Para o coach, as pessoas
precisam acordar e identificar os problemas que as impedem de ir além. Um auto
reconhecimento para descobrir o que te limita. Nesse aspecto, até os
ensinamentos herdados dos pais e a experiência da infância precisam ser
repensados. Será que o que eu aprendi ou o que me ensinaram realmente está
correto? Essa é pergunta que deve ser feita.
“É preciso quebrar ideologias
e impedir que o ciclo vicioso continue dentro da família. Uma das crenças que
eu trabalho muito são falas, momentos ou situações que são passados na
infância, por exemplo: crescemos ouvindo que o dinheiro para ter valor precisa
ser suado, tem que ser sofrido. Só que muitas vezes você tem capacidade e
conhecimento técnico para ganhar esse dinheiro de forma lícita e não tão suada
e tão sofrida. Mas você ouviu a sua infância toda que para ser merecedor
precisa sofrer e isso impede a pessoa de ir além”, comenta.
Alunos do instrutor Augusto Almeida durante o curso de relacionamento interpessoal em Alto Araguaia. Na foto, eles participam do exercício chamado "Roda da Vida". (Foto: Marise Carvalho). |
Dessa forma, como o
indivíduo não se conhece direito e vive preso à tradições e mitos que aprendeu,
muitas vezes ele não consegue progredir na profissão, no casamento, na vida
amorosa e nos mais diversos segmentos da vida. Consequentemente nasce a frustração,
a angústia, o desapontamento, o sentimento de culpa, a ansiedade, enfim,
diversos sintomas da depressão. Ora, se as coisas não andam e não melhoram, o sujeito
se sente acuado. Essa é a sensação de patinar sem sair do lugar.
Porém, como vimos,
existem muitas luzes no fim do túnel. A regra é se conhecer, quebrar crenças
infrutíferas e, claro, não desistir.
No mais das vezes, o
problema parece que sempre está nas outras pessoas. É a esposa que não
demonstra amor, é o filho que não é gentil, é o colega de trabalho grosseiro...
Entretanto, quanto a essa visão, nananinanão! Está errada! Antes de criticar aqueles
ao seu redor é útil saber que a luta é contra o próprio eu, pois as mudanças
começam de dentro para fora e não de fora para dentro. Gentileza gera gentileza,
já diz o ditado! Boas ações resultam em bons resultados para à autoestima.
“Muitas pessoas
justificam a dificuldade de relacionamento por impaciência ou timidez. Mas será
que elas buscaram a causa da timidez ou da impaciência? A sua impaciência está
ligada à sua família, ao seu relacionamento ou porque você não compreendeu de
fato o que o incomoda? Isso você reflete no outro, no chamado efeito espelho.
Por exemplo, alunos do curso dizem que não têm paciência com as pessoas que
falam alto, com aqueles que não pedem permissão para fazer alguma coisa.
Contudo, quando você vai ver a atitude dela (de quem reclama), é a mesma coisa,
pois ela também fala alto, ela pede as coisas ao grito e quer impor as suas
ideias”, esclarece o instrutor do Senar.
Cada um precisa avaliar o
tamanho dos problemas emocionais em sua vida. Nos casos mais simples, as dicas
apontadas aqui e em diversas matérias publicadas na Internet podem ajudar,
quando associadas à mudança de comportamento e busca por atividade física e
apoio religioso. Já nos casos mais sérios, é importante que a pessoa também procure o
apoio profissional de um psicólogo. Vale a máxima: a felicidade está ao alcance
dos seus braços, portanto, faça um esforço, se estique e pegue ela.
Fonte: Blog do Acessuas Trabalho, com dados da Agência Senado.
Texto: Ademilson Lopes.
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